Os múltiplos devires do “Pensamento Indígena”

Muitas vezes, nos referimos a “O Pensamento Indígena” como se houvesse uma forma ou um modelo que se permita capturar num conceito universal do que seja tal pensamento. Esse termo singular, de teor genérico, nada mais é que uma expressão para designar algo que se configura por multiplicidades de pensamento, pois esse pensar indígena é povoado por múltiplos devires, se caracterizando por diferenças intensivas de perspectivas e de mundos.

Assim, o teor desta expressão jamais se resume a um gênero de pensamento, é uma expressão à qual o próprio conceito que, aparentemente, ela pode exprimir, foge ao seu alcance. Afinal, como designar multiplicidades constantes de devires, multiplicidades ontológicas que podem transitar num mesmo corpo físico, diferenças superpostas por diferenças, num conceito singular e que parece soar genérico?

A multiplicidade e a diferença são as matrizes de infindáveis mundos habitados por múltiplos seres, povoados por múltiplos pensares, que, por ser movido por constantes devires, dá ao pensar indígena a característica de ser sempre outro, nunca o mesmo. “O Pensamento Indígena”, para além da referência à diversidade de povos autóctones existentes no planeta, refere-se também a cada pessoa integrante de determinado povo e, ainda e sobretudo, aos múltiplos devires – humanos e não-humanos – que povoam numa pessoa.

Pensamentos Indígenas, como os múltiplos pensares das pessoas e dos povos autóctones, jamais podem ser capturados pela unidade de um conceito universal, pois a totalidade desse pensar é algo que, intrinsecamente, se caracteriza pela multiversidade que sobrepassa qualquer forma de conceito, não podendo ser subsumido a uma ontologia fundamental.

Por: Vinícius Renzulli

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