A necessidade de propor um espaço de escuta do conhecimento indígena de forma ampla e autônoma, trazendo o pensamento indígena para o centro e o protagonismo do diálogo com os não-indígenas e das questões que permeiam a contemporaneidade, tendo em vista os últimos acontecimentos ao redor do globo (como a própria pandemia), tem se tornado cada vez mais urgente.
Buscando propor este espaço, recuperamos a ideia da Universidade da Floresta, discutida em meados de 2003, no Estado do Acre, que trazia consigo uma proposta tão ousada quanto necessária: tratar o conhecimento tradicional (dos indígenas, ribeirinhos, seringueiros) e o conhecimento filosófico e científico em pé de igualdade. Na complexidade desse debate caberia aos mestres da floresta um lugar especial, uma vez que propõe-se que os índios sejam reconhecidos como mestres de seus saberes tradicionais.
Comparando o conhecimento científico aos conhecimentos tradicionais, o antropólogo Mauro Almeida diz que: “o conhecimento dos povos da floresta comporta a experimentação prática, por um lado, e a reflexão teórica, por outro” (ALMEIDA apud WEIS, 2005, p. 2), assim como o conhecimento científico oficial. Isso significa, segundo o antropólogo, que “o conhecimento dos povos da floresta não é um produto acabado que apenas é transmitido passivamente: é um corpo que está sendo produzido sob nossos olhos, articulando à sua maneira prática e teórica” (idem, apud ALBUQUERQUE, 2015. p. 41-42).
Não se trata, portanto, de opor esses distintos regimes de conhecimentos. “Apesar das profundas diferenças existentes entre os conhecimentos tradicionais e o conhecimento científico, eles têm alguns pontos comuns já que ambos têm um apetite de conhecimento, ou seja, são formas de procurar entender e agir sobre o universo” (ALBUQUERQUE, 2015, p. 42). Ambos são também uma obra aberta, em constante fluxo, sempre inacabada e se fazendo constantemente.
Neste sentido, afirma-se aqui, o saber filosófico, tão renegado aos indígenas, como reflexão “teórica”, como sistemas de pensamentos autônomos dotados de tanta ou maior complexidade quanto o nosso. Não se trata, portanto, de opor esses distintos regimes de conhecimentos. Apesar das profundas diferenças existentes entre os conhecimentos tradicionais e o conhecimento filosófico e científico, eles têm alguns pontos comuns já que ambos têm um apetite de conhecimento, ou seja, são formas de procurar entender e agir sobre a existência. Ambos são também uma obra aberta, em constante fluxo, sempre inacabada e se fazendo constantemente. Neste curso, que escapa das fronteiras acadêmicas e das instâncias burocráticas, o saber indígena poderá ser ensinado em sua inteireza e com a originalidade que lhe é peculiar.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Mauro. Universidade da Floresta vai reunir cientista e pajés. Entrevista realizada por Bruno Weiss em 18/04/2005.
ALBUQUERQUE, Ramayana Arrais. “Um estudo sobre a criação e implementação da Universidade da Floresta no Acre: uma discussão sobre conhecimentos tradicionais. Dissertação de mestrado. Campinas, SP, 2015.
Por: Guilherme Meneses